quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O intérprete de língua de sinais soluciona o problema da inclusão escolar do surdo - Um equívoco?



Um intérprete de língua de sinais em uma sala de aula onde há alunos surdos e ouvintes obviamente oportuniza situações antes impensáveis em sua ausência. É reconhecido seu valor, sua importância. Contudo, vários problemas se colocam em relação à compreensão pelo surdo do que se passa na sala de aula, via intérprete. Alguns são:
1. a grande maioria dos intérpretes de língua de sinais não domina a língua de sinais, fato reconhecido inclusive por muitos deles;
2. a grande maioria utiliza o português sinalizado e desconhece as diferenças lingüísticas entre a Libras e o bimodalismo, o que também compromete a recepção pelo surdo;
3. a língua de sinais é diferente da língua oral do ponto de vista lingüístico, em todos os níveis: lexical, sintático e semântico.
Além disso, o que se diz verbalmente não se diz no mesmo tempo em língua de sinais. Pode demorar mais ou menos em diferentes circunstâncias e conteúdos, o que compromete a interpretação, uma vez que ela é realizada simultaneamente à exposição oral do interlocutor ouvinte. Pode ocorrer redução do conteúdo, mesmo que o intérprete seja da mais alta competência. O problema não reside, nessa hora, nas habilidades de interpretação do profissional, mas das intensas diferenças lingüísticas entre uma língua de modalidade auditivo-verbal e uma outra língua de modalidade visual-motora.
Tais características evidenciam, por exemplo, como é diversa a velocidade de enunciação em uma e em outra língua, já que uma não depende do espaço para sua realização, e a outra, por ser tridimensional, em algumas circunstâncias oferece mais dados a um só instante do que a língua oral, em uma determinada fração de tempo. Estudos e pesquisas recentes sugerem a necessidade de se pensar em outras formas mais fidedignas, como a interpretação consecutiva, considerada mais precisa e fidedigna, inclusive nas traduções entre duas línguas orais.
Uma outra discussão importante a respeito da presença de um intérprete de língua de sinais em sala de aula é que são pouco conhecidos os fenômenos interativos presentes em uma situação onde a relação direta entre professor ouvinte e aluno surdo se dá minimamente, por ser sempre mediada pelo intérprete. Essas situações interativas necessitam de estudo.


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